DE GALHO EM GALHO

Toda Criança precisa fugir para um lugar só seu de vez em quanto. Alguns fazem isso com amigos imaginários, outros montam cabanas debaixo da cama. EU tive uma árvore. Uma jabuticabeira nos fundos da casa da minha tia…nem ela sabia mas a árvore era minha…uma jabuticabeira enorme lá no fundo do quintal, cercada de um tapete de folhas que estralavam quando eu chegava perto.  Por muito tempo, ela foi só mais uma das plantas da minha avó, que morava nesta casa com minha tia. Mas um dia eu resolvi escalar esta planta enorme. Era apoiar um dos pés no meio do tronco, agarrar o galho de cima e dar um impulso. 1,2,3 e… estava lá em cima. Começava a exploração. Cada galho exigia uma técnica diferente para ser alcançado e me equilibrar. Qunado cansava, era só achar um canto com boa vista. Ficava quietinha brincando com as cascas ásperas e escuras que se soltavam  facilmente, revelando a pele lisa e branca da madeira por baixo. Espiava de cima minha avó cuidando do quintal, meu irmão brincando com meus primos, os cachorros preguiçosos no gramado. Ás vezes me chamavam, mas eu fingia não ouvir. Onde eu estava ninguém podia me alcançar…eu era a mais velha, RS,RS…e eles tinham medo de subir.

A Jabuticabeira era minha fortaleza, minha torre do castelo, meu lugar. Só meu.

Perdi minha amiga quando minha tia mudou de casa…só de lembrar me dá um nó na garganta. E acho que até hoje procuro outro lugar onde me sinta tão segura como em seus galhos.

Tânia.